Espetacularização da Tragédia: Quando o entretenimento flerta com a romantização do horror

Nos últimos anos, o cinema e as séries têm mergulhado cada vez mais fundo em histórias reais envolvendo serial killers, crimes bárbaros e tragédias humanas. Produções como Monstros, da Netflix, e agora a série Tremembé, reacenderam o debate sobre os limites éticos entre representação e espetacularização. Não há nada de inerentemente errado em contar essas histórias — elas fazem parte da realidade e, muitas vezes, geram discussões necessárias sobre justiça, sociedade e psicologia humana. O problema se instala quando essas narrativas, ao invés de convidar à reflexão, passam a transformar vilões reais em personagens fascinantes, quase anti-heróis, revestidos de aura pop, sedutora ou até inspiradora.

O perigo do fascínio pelo criminoso

Quando o criminoso deixa de ser símbolo de alerta e passa a ser símbolo de fascínio, algo se perde. O risco não está apenas em “contar a história do vilão”, mas na forma como se conta. Quando a narrativa se preocupa mais em construir uma figura complexa, carismática ou “cool”, e menos em contextualizar os danos, vítimas e consequências, corre-se o perigo de produzir o que se chama de espetacularização da tragédia — transformar dor alheia em espetáculo. E esse espetáculo, embalado por estética, marketing e emoção, pode anestesiar a percepção moral do público.

A lição de Jordan Peele em Nope

Jordan Peele criticou esse fenômeno com maestria em Nope (2022). A famosa cena do macaco assassino — violenta, perturbadora, mas silenciosamente reveladora — escancara a tendência humana de transformar o horror em espetáculo. O que era para ser um trauma se torna atração. O que deveria chocar, fascina. Aquilo que deveria ser denunciado, vira entretenimento. Peele mostra que a verdadeira monstruosidade, muitas vezes, não está no animal, nem no assassino, mas na nossa obsessão em assistir, registrar, compartilhar — e lucrar — com o horror.

O dilema ético das histórias reais

É justamente esse o dilema das produções baseadas em crimes reais: como contar uma história sem glorificá-la? Como retratar um criminoso sem transformá-lo em ícone? Sem convertê-lo em meme, tatuagem, fantasia, perfil de rede social, ou pior — em inspiração?

O desafio ético não está em retratar o mal, mas em estetizá-lo a ponto de esvaziar suas consequências humanas. Vítimas se tornam figurantes. Famílias são esquecidas. E o vilão, com boa música, ótima atuação e enquadramentos dramáticos, vira protagonista — e às vezes, até herói trágico.

Responsabilidade das produções e do público

Produções como Tremembé e Monstros podem ser importantes, desde que sustentem sua narrativa no compromisso com a responsabilidade. O público tem o direito de conhecer as histórias, mas tem ainda mais o direito de não ser seduzido por elas ao ponto de confundir empatia com idolatria.

No fim, contar a tragédia não é o problema. O problema é vendê-la como espetáculo.

E você, acha que essas produções cruzam a linha entre contar a história e romantizar o horror? Comente sua opinião abaixo!

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